Dia Internacional da Saúde Feminina: Cuidar da Mulher é Cuidar do Futuro

O Dia Internacional da Saúde da Feminina, assinalado anualmente a 28 de maio, é uma oportunidade fundamental para refletirmos sobre o estado da saúde feminina, os progressos alcançados e os desafios que persistem. Este momento convida-nos à reflexão sobre os desafios persistentes e sobre a necessidade de reforçar estratégias integradas de promoção, proteção e apoio à saúde feminina.

Saúde da Mulher: Fundamento para uma Infância Saudável 

Na minha experiência como enfermeira especialista em Saúde Infantil e Pediatria, torna-se evidente que os cuidados prestados à mulher — sobretudo durante a gravidez, parto e puerpério — influenciam de forma significativa a saúde do recém-nascido e da criança.

A gravidez, para além de uma experiência biológica, constitui uma vivência emocional e social profunda, que deve ser acompanhada por uma rede de cuidados qualificados e humanizados.

A Gravidez: Uma Jornada de Amor e Cuidado


A gravidez não é apenas o crescimento de um bebé dentro do útero – é uma profunda transformação no corpo e mente da mulher. Durante os cerca de nove meses de gestação, ocorrem alterações hormonais, fisiológicas e emocionais que requerem cuidados específicos e acompanhamento médico regular.


Desigualdades e Desafios Persistentes

Apesar dos progressos registados em matéria de saúde materna, continuam a existir desigualdades importantes no acesso e na qualidade dos cuidados prestados. Muitas mulheres enfrentam dificuldades económicas, falta de informação ou apoio, e até situações de violência ou negligência institucional, o que compromete gravemente a sua saúde física e mental.

Os desafios vividos pelas mulheres durante a gravidez, o parto e o puerpério são momentos intensos que requerem atenção especializada, escuta ativa e um cuidado humanizado. E é também neste percurso que muitas mulheres enfrentam vulnerabilidades: ansiedade, sobrecarga, insegurança, medo — sentimentos que devem ser reconhecidos e acompanhados com profissionalismo e empatia.

Segundo dados da OMS, cerca de 295.000 mulheres em todo o mundo morrem anualmente devido a complicações relacionadas com a gravidez ou o parto — a maioria em países em desenvolvimento e por causas evitáveis com cuidados adequados.

Em Portugal, registaram-se em 2023 mais de 78.000 nascimentos, com uma tendência de ligeiro aumento face aos anos anteriores, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

A evolução da mortalidade materna e neonatal em Portugal pode ser observada no gráfico seguinte:









Recém-Nascido: Um Mundo Novo Começa





O nascimento é um momento mágico, mas também o início de uma fase muito sensível: os primeiros 28 dias de vida do bebé, conhecidos como período neonatal. Durante este tempo, o recém-nascido é especialmente vulnerável e necessita de cuidados adequados e vigilância constante.

O Compromisso da Enfermagem Especializada

A Enfermagem — em especial a Enfermagem Especializada em Saúde Materna e a Enfermagem Especializada em Saúde Infantil e Pediatria — assume um papel central na prestação de cuidados dirigidos à mulher e ao bebé, com uma abordagem holística, humanizada e sustentada em evidência científica.       

A escuta ativa, o acompanhamento contínuo e a educação para a saúde constituem estratégias fundamentais para reforçar a autonomia da mulher e fomentar práticas informadas, seguras e respeitadoras das suas necessidades.

Neste Dia Internacional da Saúde Feminina, é essencial reafirmar o compromisso com um modelo de cuidado centrado na mulher, que respeite as suas escolhas, promova a sua autonomia e assegure a proteção da saúde materno-infantil. Este compromisso não deve ser apenas dos profissionais de saúde, mas também do Estado e da sociedade como um todo, que têm o dever de criar políticas públicas eficazes, garantir o acesso universal a cuidados de qualidade e promover ambientes seguros e inclusivos.

Cabe, assim, a todos os profissionais, instituições e cidadãos, assegurar que cada mulher seja acompanhada com dignidade, conhecimento e uma presença cuidadora, ao longo de todas as fases da sua vida reprodutiva.

A Mulher não é apenas utente dos serviços de saúde, é, muitas vezes, cuidadora, educadora, suporte emocional e promotora de bem-estar no seio da família. Cuidar da sua saúde é, por isso, cuidar de todos nós.

Formadora Enf.ª Olga Arriscado